O Homem e o Mar: Os açorianos e a pesca longínqua nos bancos da Terra Nova e Gronelândia / Man and the Sea: The people of the Azores and long-distance fishing in the banks of Newfoundland and Greenland
Description:Do Autorpara o LeitorVim ao mundo antes da II Guerra Mundial. Tive a sorte de nascer ilhéu e o privilégio de o ser numa ilha pequena, com a fortuna de ficar à porta da encruzilhada das rotas marítimas do norte do Atlântico. Quis o destino que nascesse entre gente do mar e entre eles fosse criado e me tornasse homemFlores, pequena ilha perdida na imensidão do oceano, mais perto da Terra Nova do que de Lisboa. No tempo da navegação astronómica era uma rota obrigatória para quem navegava entre o velho e o novo mundo, entre dois continentes separados pelo imenso Atlântico. Por força de tais circunstâncias, já nasci marujo e embarcadiço.As mais recuadas recordações da infância giram em torno do mar e de tudo o que no seu seio se cria e sobre ele navega. Não se torna difícil ao caro leitor entender que quando dei os primeiros passos, já sofria da tentação da água salgada, do fascínio da sua força, pujança de vida, beleza, encanto e mistério.Os anos nunca fizeram diminuir este feitiço, bem pelo contrário... O desaparecimento de quase todos os grandes veleiros fez redobrar o meu fraco por brisas frescas e pelo enfunar de velas rangendo os mastros e o cordame, proas a cortar ondas...Ao longo dos anos foram reunidos livros e mais livros, que não saciavam a sede de conhecer e sentir a Epopeia da Pesca nos mares gelados. O que foi recolhido era uma imagem pálida e desfocada da vivência dos homens nas muitas campanhas nos bancos da Terra Nova e Gronelândia, "Heróis da Epopeia dos Humildes", como lhes chamou Rocha Peixoto. Homens de aço, em navios de madeira.Destemidos cavaleiros dos mares que arrostaram mil temporais e venceram bancos de gelo entre brumas densas e geladas, empolgante epopeia singular que só homens corajosos e determinados levaram a cabo. Da acção do Homem para dominar o mar por vezes revolto e traiçoeiro, importa registar os enormes feitos daqueles que projectaram, construíram e tripularam navios em todos os graus da hierarquia e responsabilidade, dando assim a conhecer as suas vidas duras e atribuladas, muitas vezes na primeira pessoa.Chegara o fim da II Guerra Mundial, a Europa regressava aos dias de paz. A frota bacalhoeira voltou a sulcar a sua antiga rota passagem pela costa sul da Ilha das Flores. Na Primavera, dias maiores, campos verdejantes e floridos, pastagens povoadas de gado luzidio, vacas amamentando vitelos. Muitas vezes o céu e o mar tornavam-se uma infinita visão azul. As gentes do campo lavravam a terra e faziam sementeiras. A natureza já havia acordado do longo sono do Inverno. Iniciava-se de novo o ciclo das produções da terra.Da Ponta do Capitão surgiam proas afiadas impelidas por velas enfunadas, a cortar as ondas brancas num mar ora azul turquesa, ora esverdeado, muitas vezes anilado com tons de violeta, que só o Mar dos Açores tem o privilégio de usar uma paleta tão rica de tonalidades. O meu olhar e pensamento seguiam esses soberbos veleiros até à Ponta da Rocha Alta, onde viravam a popa à última costa da Europa. A minha fantasia de criança, o mistério e o exotismo dos mares, gentes em terras desconhecidas, estimulavam a minha imaginação infantil, e eu embarcava em pensamento...Em certas noites a Lua, redonda e meiga como um seio de mulher, derramava prata dourada sobre os navios abrindo uma estrada no oceano, caminho de estrelas, de memórias, evocação do espírito daqueles que foram tragados pela fúria dos vendavais e jazem sepultados nas profundezas do oceano.Nos dias de nevoeiro escutava-se o tilintar do sino ou os silvos da sirene de bordo. Eram os bacalhoeiros que na densa bruma seguiam a sua rota para o Noroeste. Com tempo claro, passavam tão próximo da costa que se conseguia ler o nome do navio e ouvir o marulhar da água cortada pela proa e que a seguir acariciava o casco. Um número considerável vinha fazer a aguada nas ribeiras vizinhas das Lajes e de Santa Cruz. Chegaram a desembarcar tripulantes doentes para serem tratados e alguns falecidos em viagem. Quando avistavam embarcações da ilha a pescar, rumavam para a sua proximidade, colocando-se pelo lado da terra, para encobrirem os abastecimentos de peixe fresco, que trocavam por aparelhos de pesca como anzóis e linhas e às vezes por bacalhau salgado, se vinham de regresso. Horas, dias ou semanas depois, escutavam-se na rádio as comunicações entre os capitães dos diferentes navios. Domingos também ouvíamos, tal como eles lá longe, a missa e a "Hora da Saudade", que a Emissora Nacional radiodifundia expressamente para a frota bacalhoeira. Ainda havia magia na Rádio e nós, ilhéus, também nos sentíamos a navegar, ou pelo sonho, ou pelas circunstâncias.Memórias que nenhuma máquina registou, pois não seria possível registar a cor e a grandeza destas imagens, que apenas o meu sentimento e memória guardou. Só a paleta de um genial pintor de marinhas seria capaz de imortalizar tanta poesia, beleza, formas e cores.Isto é um momento de memórias de Homens e Navios que se consider...We have made it easy for you to find a PDF Ebooks without any digging. And by having access to our ebooks online or by storing it on your computer, you have convenient answers with O Homem e o Mar: Os açorianos e a pesca longínqua nos bancos da Terra Nova e Gronelândia / Man and the Sea: The people of the Azores and long-distance fishing in the banks of Newfoundland and Greenland. To get started finding O Homem e o Mar: Os açorianos e a pesca longínqua nos bancos da Terra Nova e Gronelândia / Man and the Sea: The people of the Azores and long-distance fishing in the banks of Newfoundland and Greenland, you are right to find our website which has a comprehensive collection of manuals listed. Our library is the biggest of these that have literally hundreds of thousands of different products represented.
Pages
260
Format
PDF, EPUB & Kindle Edition
Publisher
Intermezzo-Audiovisuais
Release
2004
ISBN
9729895015
O Homem e o Mar: Os açorianos e a pesca longínqua nos bancos da Terra Nova e Gronelândia / Man and the Sea: The people of the Azores and long-distance fishing in the banks of Newfoundland and Greenland
Description: Do Autorpara o LeitorVim ao mundo antes da II Guerra Mundial. Tive a sorte de nascer ilhéu e o privilégio de o ser numa ilha pequena, com a fortuna de ficar à porta da encruzilhada das rotas marítimas do norte do Atlântico. Quis o destino que nascesse entre gente do mar e entre eles fosse criado e me tornasse homemFlores, pequena ilha perdida na imensidão do oceano, mais perto da Terra Nova do que de Lisboa. No tempo da navegação astronómica era uma rota obrigatória para quem navegava entre o velho e o novo mundo, entre dois continentes separados pelo imenso Atlântico. Por força de tais circunstâncias, já nasci marujo e embarcadiço.As mais recuadas recordações da infância giram em torno do mar e de tudo o que no seu seio se cria e sobre ele navega. Não se torna difícil ao caro leitor entender que quando dei os primeiros passos, já sofria da tentação da água salgada, do fascínio da sua força, pujança de vida, beleza, encanto e mistério.Os anos nunca fizeram diminuir este feitiço, bem pelo contrário... O desaparecimento de quase todos os grandes veleiros fez redobrar o meu fraco por brisas frescas e pelo enfunar de velas rangendo os mastros e o cordame, proas a cortar ondas...Ao longo dos anos foram reunidos livros e mais livros, que não saciavam a sede de conhecer e sentir a Epopeia da Pesca nos mares gelados. O que foi recolhido era uma imagem pálida e desfocada da vivência dos homens nas muitas campanhas nos bancos da Terra Nova e Gronelândia, "Heróis da Epopeia dos Humildes", como lhes chamou Rocha Peixoto. Homens de aço, em navios de madeira.Destemidos cavaleiros dos mares que arrostaram mil temporais e venceram bancos de gelo entre brumas densas e geladas, empolgante epopeia singular que só homens corajosos e determinados levaram a cabo. Da acção do Homem para dominar o mar por vezes revolto e traiçoeiro, importa registar os enormes feitos daqueles que projectaram, construíram e tripularam navios em todos os graus da hierarquia e responsabilidade, dando assim a conhecer as suas vidas duras e atribuladas, muitas vezes na primeira pessoa.Chegara o fim da II Guerra Mundial, a Europa regressava aos dias de paz. A frota bacalhoeira voltou a sulcar a sua antiga rota passagem pela costa sul da Ilha das Flores. Na Primavera, dias maiores, campos verdejantes e floridos, pastagens povoadas de gado luzidio, vacas amamentando vitelos. Muitas vezes o céu e o mar tornavam-se uma infinita visão azul. As gentes do campo lavravam a terra e faziam sementeiras. A natureza já havia acordado do longo sono do Inverno. Iniciava-se de novo o ciclo das produções da terra.Da Ponta do Capitão surgiam proas afiadas impelidas por velas enfunadas, a cortar as ondas brancas num mar ora azul turquesa, ora esverdeado, muitas vezes anilado com tons de violeta, que só o Mar dos Açores tem o privilégio de usar uma paleta tão rica de tonalidades. O meu olhar e pensamento seguiam esses soberbos veleiros até à Ponta da Rocha Alta, onde viravam a popa à última costa da Europa. A minha fantasia de criança, o mistério e o exotismo dos mares, gentes em terras desconhecidas, estimulavam a minha imaginação infantil, e eu embarcava em pensamento...Em certas noites a Lua, redonda e meiga como um seio de mulher, derramava prata dourada sobre os navios abrindo uma estrada no oceano, caminho de estrelas, de memórias, evocação do espírito daqueles que foram tragados pela fúria dos vendavais e jazem sepultados nas profundezas do oceano.Nos dias de nevoeiro escutava-se o tilintar do sino ou os silvos da sirene de bordo. Eram os bacalhoeiros que na densa bruma seguiam a sua rota para o Noroeste. Com tempo claro, passavam tão próximo da costa que se conseguia ler o nome do navio e ouvir o marulhar da água cortada pela proa e que a seguir acariciava o casco. Um número considerável vinha fazer a aguada nas ribeiras vizinhas das Lajes e de Santa Cruz. Chegaram a desembarcar tripulantes doentes para serem tratados e alguns falecidos em viagem. Quando avistavam embarcações da ilha a pescar, rumavam para a sua proximidade, colocando-se pelo lado da terra, para encobrirem os abastecimentos de peixe fresco, que trocavam por aparelhos de pesca como anzóis e linhas e às vezes por bacalhau salgado, se vinham de regresso. Horas, dias ou semanas depois, escutavam-se na rádio as comunicações entre os capitães dos diferentes navios. Domingos também ouvíamos, tal como eles lá longe, a missa e a "Hora da Saudade", que a Emissora Nacional radiodifundia expressamente para a frota bacalhoeira. Ainda havia magia na Rádio e nós, ilhéus, também nos sentíamos a navegar, ou pelo sonho, ou pelas circunstâncias.Memórias que nenhuma máquina registou, pois não seria possível registar a cor e a grandeza destas imagens, que apenas o meu sentimento e memória guardou. Só a paleta de um genial pintor de marinhas seria capaz de imortalizar tanta poesia, beleza, formas e cores.Isto é um momento de memórias de Homens e Navios que se consider...We have made it easy for you to find a PDF Ebooks without any digging. And by having access to our ebooks online or by storing it on your computer, you have convenient answers with O Homem e o Mar: Os açorianos e a pesca longínqua nos bancos da Terra Nova e Gronelândia / Man and the Sea: The people of the Azores and long-distance fishing in the banks of Newfoundland and Greenland. To get started finding O Homem e o Mar: Os açorianos e a pesca longínqua nos bancos da Terra Nova e Gronelândia / Man and the Sea: The people of the Azores and long-distance fishing in the banks of Newfoundland and Greenland, you are right to find our website which has a comprehensive collection of manuals listed. Our library is the biggest of these that have literally hundreds of thousands of different products represented.